Células que não envelhecem

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

01/07/2011
Por Mônica Pileggi
Ag̻ncia FAPESP РUma pesquisa feita por cientistas dos Estados Unidos e do Brasil acaba de fornecer novas pistas para um dos fen̫menos menos conhecidos de alguns tipos de c̢ncer: por que os tel̫meros se alongam, quando deveriam diminuir de tamanho.
Telômeros são estruturas constituídas por fileiras repetitivas de proteínas e DNA não codificante que formam as extremidades dos cromossomos. Sua principal função é proteger a estrutura do cromossomo. Os telômeros contêm sequências de DNA que, em células sadias, encurtam-se a cada processo normal de divisão celular.
Sem telômeros, o encurtamento não ocorre, afetando as funções celulares. Sabe-se que células cancerosas, que se dividem muito rapidamente, usam grandes quantidades da enzima telomerase para manter os telômeros intactos. Mas há alguns tipos de células cancerosas que mantém o comprimento dos telômeros intacto, e isso sem precisar da ajuda da telomerase.
Sem um aumento na produção da telomerase, a dúvida é como as células cancerosas conseguem manter seus telômeros, em um fenômeno de alongamento alternativo dessas estruturas.
O novo estudo identificou, por meio de uma técnica de marcação histológica molecular chamada “hibridização in-situ com marcadores fluorescentes específicos de telômeros” (FISH, em inglês), dois genes encontrados com alta frequência em tumores, denominados ATRX e DAXX. Esses genes são responsáveis por manter o comprimento dos telômeros, indica o trabalho.
A pesquisa, cujos resultados foram publicados no site da revista Science, têm como autoras a pesquisadora Sueli Mieko Oba-Shinjo e a professora Suely Kazue Nagahashi Marie, do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Segundo ela, em alguns tipos de câncer foram detectadas – por sequenciamento ou por imunomarcação – mutações nos genes ATRX e DAXX. “Todos os genes com grande alteração na sequência tinham o telômero mais preservado, o que justifica um dos mecanismos do processo de câncer”, disse Marie à Agência FAPESP.
A muta̤̣o foi detectada inicialmente em carcinomas de p̢ncreas. Em seguida, o grupo tamb̩m identificou a muta̤̣o em outros mais de 400 tipos de c̢ncer, entre deles o glioblastoma multiforme Рtumor maligno que ataca o sistema nervoso central e atinge tanto crian̤as como adultos Рe o oligodendroglioma Рque tamb̩m ataca o sistema nervoso e tem origem na c̩lula oligodendroglial.
Para os pesquisadores, o objetivo a ser atingido com esses marcadores é o de detectar a doença o quanto antes para que seja possível evitar o crescimento do tumor sólido.
“Essas são mutações genéticas que só existem nos tumores. Se conseguirmos rastreá-las durante a evolução do paciente será possível saber, precocemente, se o tumor voltou ou se está crescendo”, disse Marie.
O estudo foi liderado por cientistas do Departamento de Patologia do Johns Hopkins Medical Institutions, em Baltimore. “Descobrir os genes responsáveis pelo alongamento alternativo dos telômeros é o primeiro passo para compreender esse processo e, com isso, poderemos ter oportunidades de desenvolver novas terapias contra o câncer”, disse Nickolas Papadopoulos, do Johns Hopkins.

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